Fala-se muito hoje sobre a humanização da assistência ao paciente! Vale lembrar que temos uma política pública que direciona o que é um tratamento digno de um ser humano.
De modo especial, queremos destacar o parto humanizado e a recepção humanizada do recém-nascido.
- Será que os seres humanos que trabalham nas instituições de saúde esqueceram que os pacientes também são seres humanos?
- Falar disso é necessário?
Em uma resposta breve, mais do que necessário, é urgente!
O parto já foi um momento de mulheres e para as mulheres, vivenciado em casa, com a família, onde a mulher tinha liberdade de viver o momento do nascimento de seu herdeiro com espontaneidade, sem a ameaça contínua da perda, porque era tido como natural e fisiológico, assim como a gravidez.
Atualmente, o momento do parto para a mulher moderna é vivido, majoritariamente, no ambiente hospitalar e isto é compreendido, no contexto social, como sinônimo de segurança para mãe e para o bebê. Porém, uma das consequências da medicalização do parto foi o controle institucional de um momento que deveria ser vivido por essa mulher e sua família.
A maior parte das instituições respeita o parto da mulher e adequa este ambiente para que ela possa viver sua maternidade de forma plena. Entretanto, parir em um ambiente preparado para receber pessoas enfermas, trouxe uma ressignificação do trabalho de parto que levou os profissionais da saúde a criarem estratégias para receber essa mulher, muitas vezes, às custas da sua liberdade.
A mulher passou a ser colocada em um “molde” no qual andar quando a contração aperta é proibido ou não aconselhado. Ela vive a dor deitada em um leito! Ter um acompanhante para apoiá-la neste momento crucial, apesar de ser garantido em lei, nem sempre é valorizado e incentivado! Gritar ou reclamar quando a dor aumenta passa a ser motivo de inibição, em algumas circunstâncias de violência verbal em resposta ao grito: “na hora de fazer não gritou assim!” A ofensa e o destrato ao pedir ajuda da equipe de saúde passou a ser frequente: “manhosa, chorona, mole…”. Ela foi cortada em sua intimidade sem ser consultada, sem ser anestesiada, depois recebeu “o ponto do marido” para não ficar “larga”. Ela recebeu a manobra de Kristeller (aquela proibida). Ela foi separada de seu filho, não podendo recebê-lo em seus braços com amor para não “contaminá-lo”. Ela foi violentada de outas inúmeras maneiras, mas ninguém viu, porque “o bebê ficou bem” e é tudo que importa!
Por isso precisamos falar sobre humanização do parto e da recepção do recém-nascido! Porque, infelizmente, a violência descrita neste texto é corriqueira e normalizada.
Humanizar a assistência ao parto é urgente! Afinal, somos seres humanos, mas muitas vezes isso é esquecido…