Mal estar no corpo, muita dor de cabeça, situações de vida presas na garganta e o resultado: uma amigdalite bacteriana!
Primeira tentativa – uma consulta online pelo aplicativo do convênio. Só nesta primeira tentativa podemos abrir uma grande discussão! A tecnologia da informação e ampliação de regulamentação que autoriza a realização de consultas à distância é um tema dilemático, pois se por um lado amplia o acesso, minimiza deslocamentos e aglomerações desnecessárias e otimiza o tempo, por outro, a depender das competências do profissional e da estrutura de rede envolvida, torna-se um encontro desumano ou um desencontro humano, superficial e com foco no “time is money” (tempo é dinheiro).
No meu caso, foi uma experiência péssima. Uma médica ortopedista que fez um atendimento de menos de cinco minutos sem conduta efetiva, sem iniciar um diálogo para uma criação de vínculo ou de investigação. Pautou-se em uma foto enviada por mim que não mostrava a realidade do problema, não acolheu minha fala (o não verbal dela gritava desatenção). Triste! Horrível! Sem palavras para descrever… O que leva um profissional a ter essa atitude? O que leva um profissional a se submeter a essa realidade mecanizada, desumanizada e muito iatrogênica?
O problema não é a existência da tecnologia, isso é maravilhoso, um avanço necessário, parte da nossa atual realidade e com uma potência imensa! Para o bem ou para o mal. Depende do ser humano que a está utilizando! O fator humano sempre será o determinante de uma experiência positiva ou negativa!
Segunda tentativa – ida ao Pronto Socorro (PS), apesar do medo da circulação de novas variantes da Covid-19! Máscara N95, álcool gel em mãos, livro para me distrair na longa espera já prevista. Chego ao PS 09h47 da manhã, retiro uma senha e só sou chamada uma hora depois para fazer a ficha de entrada. Nesse tempo, oscilei entre ler o livro e observar o ambiente ao meu redor. Todos com a cervical para baixo, olhando os celulares.
Vale lembrar que postura de inclinação para baixo, desencadeia reações químicas cerebrais que tendem a estimular sentimentos de tristeza. Ao contrário de postura aberta e de olhar altivo, gera o oposto.
Dor, olhares cabisbaixos, indiferenças! Chega uma jovem mulher, empurrada em uma cadeira de rodas por um rapaz. Ela está contorcida e gemendo de dor. O segurança encaminha para sala de medicação, de lá orientam ambos a retornarem à recepção, entregam uma senha preferencial e ali decorrem eternos minutos sem um acolhimento.
Questiono se não há sala de emergência. Questiono se todos os casos de urgência e emergência entram pelo mesmo lugar. Se uma pessoa chegar infartando, tem que esperar a senha para fazer a ficha?
Inadmissível isso em nossa realidade. Chega uma mulher bem vestida supervisionando os atendentes que fazem as fichas de entrada, uma das atendentes questiona essa mulher sobre o atendimento da pessoa que está nitidamente com muita dor. Ela pede para encaminharem para sala de medicação. O rapaz explica que já foi lá e os mandaram de volta para a recepção. Ela diz que vai ver… não sai do lugar e tecla no celular. Indiferença! O atendente ao lado pega a senha deles e faz a ficha e avisa que o convênio está no período de carência, se precisar de exame de imagem, internação ou algo mais complexo, terá que ser no particular. Após eternos minutos essa moça entra em um dos consultórios médicos, gritos de dor saem de lá… Não posso deduzir nada sem saber do caso em detalhes.
A imagem que ficou? Desumanização! Erro de fluxo de pronto atendimento! A grande questão: de quem é a responsabilidade?
Senhas que sucediam a minha eram chamadas aos consultórios e nada de me chamarem. Questiono o critério. A resposta? Não tem critério. Enquanto levo o questionamento adiante, minha senha é chamada! Preciso confessar que durante toda a espera, além de fazer um exercício consciente de paciência e compaixão, me apeguei na minha crença e fé e mentalizei excelentes profissionais me atendendo. Também usei das técnicas de programação neurolinguística e técnicas de comunicação para me comunicar com a médica. Ela me atendeu super bem. Sem grandes cuidados em realizar um exame físico minucioso, sem verificar sinais vitais, sem palpar a região cervical em busca de gânglios. Apenas um olhar na garganta! Porém me ouviu, olhou nos olhos, teve uma conduta em acordo com o que eu sugeri (receber uma penicilina intramuscular ao invés de comprar um antibiótico caro e ficar tomando por vários dias), além disso, me passou corticosteroide e um analgésico intravenosos para aliviar minha dor e mal estar.
Saio do consultório e aguardo mais muitos minutos para me chamarem para sala de medicação. Mais uma vez, muitas senhas que foram retiradas após a minha chegada, eram chamadas para a tal sala de medicação. Após uns 20 minutos de exercício de paciência, levanto e vou até esta sala, pergunto gentilmente o nome da colaboradora que é técnica de enfermagem e questiono se já chamaram minha senha, no caso de eu não ter me atentado. A resposta é não. Questiono o motivo de senhas posteriores a minha terem sido chamadas. Uma pausa, ela procura pela minha prescrição e não acha, refere que ainda não subiu da farmácia. Pede para eu aguardar em uma cadeira ali na mesma sala. Mais exercícios de respiração e observação do ambiente. Sala apertada, uma poltrona ao lado da outra com pouquíssimo espaço para a realização das técnicas de cuidado. Não há higienização entre uma pessoa que levanta e vai embora e outra que chega e se senta. Minha presença faz as colaboradoras verificarem a chegada das minhas medicações. Nada na farmácia. Uma delas se dispõe a ir ao consultório da médica ver se ela encaminhou. Nesse intervalo, chegou a caixa de medicação. Haviam quatro técnicas de enfermagem naquela sala. Todas concentradas no trabalho e muito gentis. A que aplicou as medicações em mim, teve uma habilidade técnica impecável, exceto por romper a luva de procedimento para palpar meu braço em busca da veia a ser puncionada.
Três horas após minha chegada, fui embora. Com meu problema “biomedicamente” resolvido. Entretanto com inúmeras reflexões, inquietações e uma vontade imensa de agir para mudar essa realidade!
Atos simples! Atitudes possíveis que poderiam fazer toda a diferença para o bem!
Existem pessoas de boa vontade sim! Muitas! Porém, volto a questionar. De quem é a responsabilidade?
Uma mudança de perspectiva, um olhar de fora, um ato de compaixão para ver aquelas muitas pessoas – trabalhadores administrativos, técnicos e usuários do serviço – Vamos lá… o que poderia ser modificado para que a cena fosse diferente? Quem arrisca?
Temos algumas pistas, mas ficará para o próximo blog… compartilhe conosco suas críticas e sugestões acerca dessa cena.
Quer aprender sobre Educação Permanente em Saúde? Uma ferramenta potente pata transformar realidades como essa descrita na cena da vida real? Inscreva-se para nossa masterclass:
https://lp.enpraxis.com.br/masterclass-eps/