O luto perinatal é aquele vivido pela mãe e a família, a partir da morte do bebê, durante a gestação ou durante a primeira semana de vida.
Não bastasse a dor e o sofrimento na morte de um ente querido, a morte deste bebê traz à tona lutos inacabados (os fracassos, as separações…) além da crença na inversão da “ordem natural” que é aquela na qual o filho deve enterrar os pais e nunca o oposto.
A mãe que perde um filho não tem nome. Aquela que perde o marido é viúva, aquela que perde os pais é órfã, mas como devemos chamar essa mãe que perdeu um filho? Não tem nome, pois não faz parte da “ordem natural” das coisas da vida.
O poema de Martha Medeiros, publicado no livro chamado Poesia Reunida, retrata este sentimento vivido pela sociedade:
“Parto do princípio
que todo parto é natural
nascer de cócoras, na água ou com fórceps
é nascimento igual
parto computadorizado
ou dar à luz entre índios
todos no fim são bem vindos
morrer é que não é normal”.
Os profissionais de saúde, durante sua formação, não discutem a morte do bebê, pois é um “desfecho raro”. Estes tentam continuamente se blindar da dor, e com isso acabam se apresentando frios ou ausentes para esta família enlutada.
Heloisa de Oliveira Salgado e Carla Andreussi Polido, publicaram o livro Como lidar com o Luto Perinatal, um guia para profissionais de saúde. Este traz o protocolo P-A-C-I-E-N-T-E, desenvolvido por pesquisadores brasileiros para auxiliar no comportamento dos profissionais durante a situação do óbito do bebê. O protocolo consiste na utilização do mnemônico, no qual cada letra oferece um comando a ser seguido no acolhimento dos pais.
Utiliza-se então:
- P = PREPARE
- Entenda o que a família sabe sobre a gestação ou sobre o bebê e, mais do que isso, o quanto eles desejam saber;
- A = ACESSE
- Garanta privacidade, uma cadeira, talvez um copo de água e tenha próximo uma caixa de lenços de papel. Esse tipo de atitude dá início à próxima parte do protocolo;
- C = CONVITE À VERDADE
- Caso a família esteja pronta para ouvir, utilize frases como: “Lamento, mas não tenho boas notícias”. Espere alguns segundos para continuar e observe algum sinal de que a família está preparada para ouvir o que virá a seguir;
- I = INFORME
- Nesse momento a família será informada, delicadamente, do estado de saúde da gestação ou do bebê;
- E = EMOÇÕES
- Quando o entendimento da situação ocorre, as emoções da família tendem a vir à superfície, o que significa que a equipe deve estar preparada para acolher de forma empática, sem tentar justificar ou responder a cada uma das colocações dos familiares;
- N = NÃO ABANDONE O PACIENTE
- Deixar claro que a equipe permanecerá prestando cuidados à família e ao bebê até o fim dos procedimentos necessários, respeitando as escolhas da família e tentará ao máximo adequar à realidade institucional.
- TE = TRACE UMA ESTRATÉGIA
- Deixe claro que a equipe seguirá dando suporte a todos nesse momento tão difícil. Explique detalhadamente cada procedimento que pode ser realizado a seguir.
É muito importante para iniciar a elaboração deste luto que a família possa ver o bebê morto e possa se despedir e cabe, normalmente, à equipe de enfermagem viabilizar este momento. Caso seja possível, é recomendado vestir e pentear a criança e permitir que os pais a peguem no colo. Da mesma forma, se houver a negativa dos pais para pegarem o bebê, é prática em alguns hospitais montar uma caixinha de lembranças, com a pulseira de identificação, as roupas e fotos do bebê vestido e arrumado. Essa caixa fica guardada por um período pela instituição para que, em um momento de menor dor, a família possa retirar.
É indispensável que o profissional de saúde saiba respeitar e acolher a dor da pessoa na vida e na morte.