Ser educador no aqui e agora, imersos na realidade histórica, econômica e social em que vivemos, apresenta diversos desafios que impactam toda a estrutura do processo ensino-aprendizagem, desde a relação em si entre educador e educando, passando pelas relações familiares e comunitárias, até a dinâmica macropolítica das relações humanas. Vamos a alguns recortes do retrato desse aqui e agora que podem subsidiar nossa reflexão sobre o ser educador nesse contexto:
O primeiro recorte é o da disrupção digital – um momento histórico considerado por Klaus Schwab (2016) como quarta revolução industrial que desencadeou mudanças de paradigmas que transformam, além do “que” e “como” fazemos, “quem” somos. Esse impacto em “quem” somos ocorre, segundo o autor, devido à fusão e rápida difusão das tecnologias com interação dos domínios físicos – a exemplo da impressão 3D, digitais – a exemplo da internet of things (IoT) e biológicos – a exemplo de reescrita de genoma.
O segundo olhar é para a Emancipação do educando frente ao educador – transformações nas relações de poder são evidenciadas em todos os espaços da sociedade, na relação pais e filhos, professor e estudante, autoridades sociais e população civil. Se no passado predominava, como afirma Foucault (2012) os mecanismos disciplinares como estratégia de manutenção de um poder unilateral, observamos uma grande transformação nas relações de poder que ultrapassam uma relação equilibrada, mas que, acredito estar centrada está no “Eu” e não no “Tu” ou no “Nós”.
Essas duas cenas retratadas brevemente já nos ajudam a compreender que esse novo jeito de ser no mundo, conectados ao universo virtual, com acesso a inúmeras informações de forma imediata e estabelecendo relações centradas no “Eu” que fragilizaram as habilidades para lidar com frustações, esperas e pontos de vistas diferentes. E nós educadores, o que podemos fazer frente a esse universo desafiador?
Acredito que, resgatando a proposta de Moreno (2016), atual até hoje, precisamos considerar a sacralidade da relação humana e contribuir com espaços seguros para expressão da espontaneidade-criatividade. Esse é o caminho possível para viver o aqui e agora das relações educador-educando.
Trata-se de uma ação micropolítica, com muitas limitações macropolíticas de interesses que são, muitas vezes, contrários ao aprofundamento dessas relações pautadas na espontaneidade-criatividade. Porém, sabendo que as dores e as curas, os desafios e os caminhos criativos ocorrem na relação, é nela que devemos colocar nossa atenção e cuidado. Como educadores, precisamos nos conectar aos valores e propósitos que nos movem para seguirmos na contribuição genuína de promover esse cuidado nas relações, seja no ambiente escolar, comunitário ou familiar. Para isso, uma forma concreta de colocar ação essa contribuição é instituir espaços de encontros e utilizarmos os fundamentos do psicodrama para favorecer ações que elevem a espontaneidade-criatividade.
Gabriela Rodrigues Zinn
Referências:
FOUCAULT, Michel . Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2012. / MORENO Jacob Levi. Psicodrama. São Paulo: Cultrix, 2016. / SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016.